O ciclista Raul Aragão, voluntário da ONG Rodas da Paz, morreu neste domingo (22) após ter sido atropelado enquanto pedalava na Asa Norte, em Brasília. Defensor da bicicleta como forma de mobilidade e mobilização contra a violência no trânsito, Raul foi atingido por um carro por volta das 14h de ontem (21).
Socorrido, ele chegou a passar por procedimentos médicos, mas não resistiu e faleceu na manhã de hoje (22), enquanto estava internado na Unidade de Tratamento Intensivo do Hospital de Base do Distrito Federal.
As condições do atropelamento ainda não foram completamente esclarecidas. De acordo com a Polícia Civil do DF, o condutor do veículo é um jovem de 18 anos que, por solicitação do pai, irá depor em outro momento, pois estava “muito abalado” após o ocorrido. O ciclista foi conduzido ao hospital em estado grave e desacordado.
Raul Aragão, de 23 anos, era estudante de sociologia na Universidade de Brasília e gostava de usar somente a bicicleta para se locomover. De acordo com Bruno Leite, coordenador da ONG Rodas da Paz, Raul acreditava que Brasília tem condições de ser uma cidade para todos, onde pedestres, ciclistas e motoristas de veículos circulem em harmonia. A 2ª Delegacia de Polícia é responsável pela investigação do caso.
“A gente fica indignado com uma sociedade igual à nossa que é capaz de produzir uma morte dessas num sábado a tarde”, lamentou Leite, informando que o ciclista atuava em dois projetos voluntários pela organização: o perfil dos ciclistas em pequenas cidades e uma contagem do número de usuários de bicicleta do Distrito Federal.
Sobre um desses trabalhos, o próprio Raul Aragão chegou a postar uma foto no seu perfil do Facebook no dia 16 de agosto, com o seguinte comentário: “Hoje eu acordei às 4h45 para realizar uma pesquisa de fluxo de ciclistas na Cidade Estrutural. Ao fim do dia, quando o cansaço e o estresse já estavam no ápice, eu vi esse ciclista que saiu para pedalar com as duas filhas, a mais nova na cadeirinha no guidão e a mais velha na garupa. Ao subirem a passarela, o pai deixa as duas filhas descerem da bicicleta, assiste ao pôr do sol, dá meia volta e segue provavelmente para casa. Eles não sabem, mas naquele momento foi como se eu tivesse largado todo peso das minhas costas e pego carona na garupa com eles.”
Segundo o colega de ciclismo de Raul, fatalidades como essa levantam a discussão sobre os limites de velocidade em determinadas ruas, já que na Avenida L2, onde aconteceu o atropelamento, os carros podem chegar a até 60 quilômetros por hora. “A L2 atravessa acidade e passa por escolas, hospitais, universidades. A gente não tem informações sobre as condições do acidente. Mas pensando em uma cidade que seja apta para pedestres e ciclistas, temos que discutir essas questões de limite de velocidade. Se a gente quer ter uma cidade para todos, com mais segurança, temos que trabalhar essa questão dos limites de velocidade, que às vezes você pode evitar uma morte”, disse, referindo-se a uma orientação da Organização Mundial da Saúde de que vias como essa deveriam ter limite máximo de 50 Km/h.
Além de participar de competições de ciclistas em diferentes cidades brasileiras e eventos com bicicletas de rodas fixas, Raul Aragão também era adepto de ações como o Pedalando Contra as Drogas 2017, que aconteceu em setembro no Recife. Em recente postagem na rede social, o estudante descreveu o amor pela atividade e, ao mesmo tempo, o medo que os ciclistas sentem ao andar nas ruas das grandes cidades brasileiras. “Perigoso é essa galera dirigindo que nem doido, andar de bike é suave”.
Homenagem
Até o momento, não há informações sobre velório e sepultamento do corpo de Raul, que ainda não foi liberado do Instituto Médico-Legal.
A organização não governamental (ONG) Rodas da Paz marcou para a próxima sexta-feira (27), às 19h, uma Bicicletada Nacional em homenagem a Raul e a todas as vítimas da violência no trânsito. Além de Brasília, três cidades já confirmaram participação no ato: Recife, Salvador e Porto Alegre.
“Em todas as fotos, você está ou sorrindo ou compartilhando – carinho, informação, sua energia super positiva – ou, na maioria das vezes, as duas coisas ao mesmo tempo. Valeu demais, Raulzito, um dos voluntários mais queridos e participativos da Rodas da Paz e de outros grupos voluntários”, escreveram os membros da ONG, também no Facebook.
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