A batalha nas redes recomeçou. Ninguém vai dormir em serviço para 2022 (com alguma sorte nem a esquerda, mas é difícil dizer). Fato é que Luciano Huck entendeu isso e direcionou sua ação para o cenário digital.
A consultoria Quaest divulgou o IPD (Índice de Popularidade Digital), talvez o dado mais importante a partir de agora para as pretensões políticas de quem quer que seja.
E o dado é que Luciano Huck disparou e ultrapassou até Bolsonaro nas interações e engajamento digital (75,36 a 66,24). Lula e o PT estão lá atrás (29,09).
O levantamento da Quaest considera cinco dimensões: fama dos personagens públicos (número de seguidores), engajamento (comentários e curtidas por publicação), mobilização (compartilhamento das postagens), valência (reações positivas e negativas às publicações) e presença (número de redes sociais em que o usuário está ativo).
Para se ter uma ideia, há um mês atrás, Bolsonaro tinha IPD de 76,62 e Huck, de 36,89. Lula chegava a 36,38.
O IPD é o novo Ibope. Quem ignorá-lo estará fadado perder eleições sem entender por quê.
O crescimento assustador de Huck pode significar ainda uma dificuldade muito maior para o segmento progressista em 2022. Seria bom a esquerda não subestimar - de novo - os dados das redes digitais e saírem da posição de vítimas de fake news para a posição de agentes ativos e responsivos.
As redes sociais representam muito para quem tem pouco a dizer, é verdade. Mas este fato não pode afugentar das redes quem tem, efetivamente, algo a dizer.
Leiam um trecho da matéria do jornal Folha de S. Paulo sobre o levantamento da Quaest:
"'Em dezembro, capturamos um movimento muito surpreendente, porque é o segundo mês em que Bolsonaro e Lula caem em desempenho digital, e Huck agora aparece como nome que desponta', diz Felipe Nunes, professor da Universidade Federal de Minas Gerais e diretor da Quaest.
Segundo Nunes, o desempenho de Huck não está atrelado à política, mas à sua carreira na televisão. A análise mostra que as publicações com temas ligados ao cenário político fazem menos sucesso nas redes do apresentador."
Percebe-se que a exploração da miséria, essa demagogia barata de velhos políticos repaginada por Luciano Huck na televisão, acabou por se estabelecer fortemente como elemento de geração de populismo nas redes.
Já que a esquerda tem deixado as redes sociais em segundo plano, a direita e os falsos progressistas avançam a todo o vapor nesse campo de batalha, que vai se 'acostumando' a definir eleições e referendos pelo mundo.
Os dados da consultoria sobre Bolsonaro também explicam muito a relação do governo com a imprensa tradicional e com a opinião pública digital (que passa a dominar a opinião pública tradicional):
"O monitoramento da Quaest aponta que Bolsonaro tem picos de acordo com as crises do governo. A cada nova tensão, o presidente via cair seus pontos em valência (relação entre reações positivas e negativas), que cresciam novamente quando o conflito era solucionado.
'Ele ficou num zigue-zague, mas com uma rede de altíssima mobilização e engajamento. Ele conseguiu montar um fã clube que foi crescendo ao longo do ano', diz Nunes."
Percebe-se como funciona o bolsonarismo nas redes, de maneira articulada com as ações de governo. A cada vez que Bolsonaro demite um integrante de seu governo, sua popularidade sobe. É exatamente o contrário do que ocorria em governos anteriores, quando a crise instalada por um escândalo pontual era arrastada pelas páginas de jornal até o limite e prosseguia trepidante após as exonerações profiláticas.
O relatório da consultoria ainda dedica algumas considerações à presença de Lula nas redes:
"Já Lula, o terceiro no ranking do IDP, tem uma menor capacidade de articulação nas redes. O petista teve apenas dois episódios em que suas postagens se destacaram: em seu aniversário, em outubro, e na sua soltura, em novembro.
(...)
'É uma bolha muito pequena em comparação com Bolsonaro, com mobilização e engajamentos pequenos', afirma Nunes."
É bastante constrangedor que o líder político mais popular da história do país tenha uma performance tão acanhada nas redes sociais. Mas, no fundo, é compreensível.
A realidade conjuntural da produção do sentido político mudou de tal forma e de maneira tão acelerada, que os grandes estrategistas do passado recente estão sendo devorados por esse novo protocolo de comunicação.
O próprio Lula já entendeu isso. Quando ele diz que não existe mais a organização sindical dos anos 80 (entrevista ao Uol) e que agora a massa de trabalhadores está dispersa, ele já deu o diagnóstico para uma nova safra de abordagens técnicas no que diz respeito à comunicação do partido e da mobilização dos trabalhadores.
É um desafio experimentar o novo. Dá um certo frio na espinha. Mas a esquerda não pode mais continuar ignorando a cena profissional da comunicação digital.
É uma questão de escala - que o PT conhece muito bem quando evoca as diferenças entre os governos Lula e FHC: um programa de inclusão social como o Comunidade Solidária da socióloga Ruth Cardoso atingia um milhão de pessoas. O Bolsa Família atingiu 50 milhões.
O PT tem se comportado no campo digital - como os governos FHC se comportaram com o país. É quase uma presença protocolar. Educada e tímida.
Enquanto isso, o populismo digital avança a passos largos, colocando em evidência um explorador da miséria humana que é Luciano Huck e a própria miséria humana.
Sem alarde, a Rede Globo de Televisão, que vai perdendo espaço para a Internet, vai dando um 'drible da vaca' em todos nós, infiltrando o seu cavalo de Troia na muralha digital do bolsonarismo para desfilar impávida mais uma vez na passarela da concentração de renda no país mais desigual do mundo.
E o desfile tem data marcada: 2022.
Aguentem a ascensão do apresentador de televisão. Depois de um nazista, poderemos ter um playboy metido a gente fina na presidência da República.
Brasil 247
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