quinta-feira, 24 de janeiro de 2019

Em livro, detento descreve “filme de terror” vivido em Alcaçuz

“Tudo parecia tranquilho até que, de repente, se transformou em um campo de batalha. Os combates lembravam cenas de filmes medievais”. É assim que Newton Albuquerque Gomes de Andrade, 43 anos, descreve os momentos de terror vividos durante o massacre de Alcaçuz, em 14 de janeiro de 2017, no livro A escolha errada.
Newton Albuquerque é paulista. Ele deixou a maior capital do país com destino ao Rio Grande do Norte com uma missão, transportar mais de 200 quilos de crack e e outros 100 quilos de cocaína. Ele foi preso quando fazia a quinta viagem transportando drogas de São Paulo para o Nordeste, em outubro de 2008, em Genipabu.
O publicitário foi condenado, passou um ano na Penitenciária Federal de Mossoró e outros nove em Alcaçuz, de onde saiu para o regime semiaberto em agosto do ano passado. “Agora é tempo de renovação. Hoje tenho uma nova história, ganhei vida nova, sou uma nova pessoa”, afirmou ele.
No livro, um capítulo especial foi destinado para falar sobre tudo que aconteceu no mais sangrento episódio da história do sistema penitenciário potiguar, ocorrido em 2017. “É impossível não me emocionar ao lembrar dos dias de terror que vivi lá dentro. Me encontrava com a morte todos os dias”, relatou o publicitário sobre o confronto.
“Não era uma confusão passageira”
Quando estourou a rebelião, ele estava caminhando em uma espécie de campo dentro do presídio. Foi quando teve ciência de que não se tratava apenas de uma confusão passageira, mas de algo de grande proporção. “Vi detentos correndo de toda a parte do presídio. Até mesmo o setor onde eu ficava, dividindo a cela com presos que ajudavam na cozinha e na limpeza foi afetado. Graças a Deus ninguém morreu, mas ficamos em pânico”.
A ajuda do Tribunal de Justiça do Rio Grande do Norte, Pastoral Carcerária, ONG Resposta foi de grande importância para que o escritor pudesse recomeçar. Newton encontrou refúgio na escrita e, começou a produzir seus livros dentro da prisão para superar a profunda depressão. Essa prática foi fundamental para que ele se reerguesse e não chegasse ao fundo do poço.
Durante a década em que ficou atrás das grades, o escritor produziu outras obras que aguardam publicação. O Pequeno GênioAnjos do ParquePlayboys do Crime e Quatro Estações, todos foram escritos à mão.

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