As exportações de frutas pelo Rio Grande do Norte podem ter um crescimento de 5 a 15% em volume e valores na safra, iniciada neste mês de agosto, segundo expectativas e projeções de representantes e interlocutores da fruticultura potiguar ouvidos pela Tribuna do Norte. A avaliação dos produtores locais é de que as principais frutas que saem do Estado, como melão, mamão e melancia seguem em alta e com boa aceitação no mercado europeu, que neste ano, chegou a solicitar antecipação de toneladas de frutas em virtude de questões climáticas na Europa.
Com o melão já consolidado no mercado, a expectativa dos produtores é seguir buscando parcerias e perspectivas para novas transações, em especial na China. Nesta semana, em Mossoró, a 30ª Feira Internacional da Fruticultura Tropical Irrigada (Expofruit) movimentou R$ 80 milhões em negócios e anunciou o início da safra na próxima semana.
Segundo números do Comitê Executivo da Fruticultura do Rio Grande do Norte (Coex/RN), a expectativa para safra de 2023/2024 é de exportação de 400 mil toneladas de frutas, o equivalente a cerca de 18 mil contêineres. As negociações globais podem ultrapassar a casa de R$ 1,5 bilhão. Dados do Coex mostram ainda que cerca de 40% das exportações de frutas do país saem do Rio Grande do Norte e abastecem cerca de 20 países, com destaque para a União Europeia, Estados Unidos, Rússia, Canadá, Argentina, Chile, Uruguai, Paraguai e diversos países do Oriente Médio. Atualmente, o setor emprega diretamente mais de 20 mil pessoas de forma direta e mais de 50 mil de forma indireta.
Para o presidente do Coex, Fábio Queiroga, as expectativas são animadoras e a safra da fruta, que vai de agosto a março, deve alcançar patamares registrados antes da pandemia de covid-19. Entre as exportações estão melão, melancia, mamão, banana, abóbora e pequenos campos de limão e pitaya.
“Esse quantitativo de 17,5 mil conteineres seria um aumento de 10% em relação ao ano passado mas aproximaríamos os índices que já vínhamos obtendo antes da pandemia quando tivemos as restrições marítimas. Vamos preparar o terreno para crescer ainda mais na próxima edição”, explica.
As avaliações otimistas também são endossadas pelo diretor institucional da Associação Brasileira dos Produtores Exportadores de Frutas e Derivados (Abrafrutas) e da Agrícola Famosa, Luiz Barcellos. “Tivemos pedidos antecipados. A Espanha, nosso concorrente, teve problemas de produção, então por isso a demanda começou muito forte. Estamos embarcando já uma quantidade até maior que no ano passado. Apesar do momento conturbado que a Europa vive economicamente pós pandemia, os fretes estão regularizando, então estamos otimistas. De modo geral nosso crescimento não é tão grande, algo em torno de 5%. O consumo ainda é incerto, mas com essas questões na Europa com menos produção, podemos crescer em relação ao ano passado”, acrescenta.
O secretário de Agricultura e Pesca do Rio Grande do Norte, Guilherme Saldanha, aponta que as expectativas para a safra “são as melhores possíveis” uma vez que a Europa passou por problemas de ordem climática. “Há 30 dias alguns exportadores já pediam a produtores do RN para enviar navios com certa antecedência. Começaremos na próxima semana os embarques para a Europa. Acredito que pelas ocorrências das questões climáticas e o alto custo da energia elétrica na Europa, avalio que devemos crescer e ser o maior exportador de frutas do Brasil. No ano passado exportamos US$ 177 milhões de melão, melancia e mamão. Acredito que em volume devemos crescer em pelo menos 10 a 15%”, avalia.
Apesar das expectativas, os produtores também reforçaram os gargalos existentes no Estado, como condições das estradas e do Porto de Natal, uma vez que parte das frutas do RN é exportada pelos portos do Ceará ou Pernambuco. “Tínhamos a comodidade de termos o porto doméstico e, por consequência, a companhia marítima, a CMA, tomou a decisão de trabalhar em Mucuripe, já visando a necessidade de atracar navios de grande porte – o nosso Porto tem restrições de calado e a CMA com seus navios não poderia atracar. Não é um gargalo porque estamos numa região um tanto próximo do Porto de Mucuripe. Uma restrição maior é a condição de rodovias para Natal e o fato de nossas cargas terem atravessar a cidade para chegar até o Porto”, ressalta Fábio Queiroga.
Setor planeja novos envios à China
Com certificação e autorização para exportação para a China desde janeiro de 2020, o melão produzido no Rio Grande do Norte aguarda parceiros comerciais sólidos e um mecanismo de exportação viável para adentrar de vez o país asiático. É o que apontam interlocutores da fruticultura potiguar, que confirmam que o Estado já enviou pelo menos quatro remessas “testes” de melão e deverá enviar novas na safra que se inicia.
De acordo com Fábio Queiroga, do Coex, logo após a liberação oficial da exportação, empresas sediadas no RN se prestaram a fazer os primeiros embarques para ver a performance da fruta ao longo dos dias que transcorre o trânsito do navio.
“O único que conseguimos foi de São Paulo, então a fruta demorou mais de cinquenta dias para chegar à China, o que não é uma condição ideal. Estamos em busca de outro equipamento que faça uma viagem dedicada cujo trânsito seja inferior a 30 dias”, explica Queiroga.
Ao longo dos últimos três anos, Queiroga confirma que foram feitos embarques marítimos e programas comerciais através do modal aéreo. “Os embarques aéreos são pequenos, apenas pallets. Estamos falando de 10, 15 toneladas por envio. Os marítimos vão com 20 toneladas. Então enviamos de 100 a 120 toneladas via mar e muitos embarques aéreos, mas de pequenas frações”, confirma.
“Recebi uma cotação de uma empresa que se dispôs a fazer um transporte dedicado Brasil/China inferior a 30 dias. Vamos contatar os produtores para que possamos agendar o embarque e validar a performance da fruta na condição que ela tolera”, acrescenta.
O diretor institucional da Associação Brasileira dos Produtores Exportadores de Frutas e Derivados (Abrafrutas), Luiz Barcellos, aponta que o mercado chinês poderá representar um salto no quantitatido de produção e exportação. A autorização por parte do país asiático aconteceu em janeiro de 2020 e desde então produtores potiguares tentam resolver questões logísticas para iniciar as exportações.
“O grande desafio já foi vencido que é a autorização fitossanitária para mandarmos nosso melão à China. Isso é o mais importante e demorou sete anos. O problema é que isso aconteceu no meio da pandemia e os fretes encareceram demais, mesmo para mandar para a Europa saindo daqui já é difícil, imagine para dar a volta ao mundo. Está muito caro e irregular. Esperamos que no pós pandemia com as coisas se equalizando possamos acessar esse mercado. O desafio é encontrar um parceiro comercial adequado que compre nossa fruta”, explica.
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