O servidor do Ministério Público do Rio Grande do Norte Guilherme Wanderley Lopes da Silva, responsável por atentar contra as vidas do procurador-geral de Justiça do Estado, Rinaldo Reis, do procurador-geral adjunto, Jovino Pereira, e do promotor Wendell Beetoven na última sexta-feira 24, citou o desembargador Claudio Santos, ex-presidente do Tribunal de Justiça, na carta que entregou às vítimas do atentado antes de atirar contra elas.
No item 9 do documento, intitulado de “o que o povo deve fazer para saber identificar o mal político?”, Guilherme dispara contra o ex-presidente do Tribunal de Justiça do RN ao explicar as medidas que a população deveria adotar para combater as pessoas que utilizam os órgãos públicos para se satisfazer profissionalmente.
“Vejam o mal que o desembargador Claudio Santos causou… assassinou a ética e, mesmo assim, foi várias vezes aplaudido. É mais uma chaga do nosso Estado. Se precisasse, ele alcançaria a mesma maldade do antigo Rei Nabucodonossor para atingir seus malditos propósitos pessoais”, escreveu o atirador.
O nome do desembargador, no entanto, apareceu apenas uma única vez no ‘discurso’ de Guilherme, que tinha como principal alvo o procurador Rinaldo Reis, a quem qualificou de “homem sujo, perseguidor, egoísta, articulador, saqueador, descumpridor de leis e princípios que nos são muito valorosos.”
No primeiro tópico da sua carta, Guilherme Wanderley explicou, de maneira sucinta, a motivação que teve para atentar contra as vidas dos promotores citados. “O motivo é intuitivo: legítima defesa sui generis própria e alheia. Alguém precisava fazer algo efetivo e dar uma resposta a esse genuíno crime organizado.”
Já no item 3, denominado de “quem é Rinaldo Reis Lima?”, o atirador foi ainda mais incisivo contra o alvo principal do ataque, que acabou sendo o único não atingido por disparos na ação: “É a personificação do câncer. Uma chaga que precisa ser eliminada. Um lobo em pele de cordeiro. Está intimamente ligado a destruição, fazendo parte de sua essência”, seguiu.
No fim da carta que tem, ao todo, 19 páginas, Guilherme denunciou a suposta existência de práticas corruptas dentro do Ministério Público do Rio Grande do Norte, finalizando ao apontar defeitos do atual PGJ e dele próprio. “A corrupção era e é gigantesca. O dinheiro comprou a lealdade da maioria dos membros. Assim, ele (Rinaldo Reis) tinha um defeito e eu tenho outro. O dele é achar que é um faraó e tudo pode, o meu é ter verdadeira ojeriza pela desonestidade e injustiça a ponto de agir dessa forma, sem piedade, mesmo sabendo que peco muito”, concluiu.
Servidor Guilherme Wanderley Lopes da Silva, de 44 anos
Por volta das 11h da manhã do sábado 26, Guilherme se entregou no quartel da Polícia Militar. Ele apareceu assistido por dois advogados e preferiu exercer o direito constitucional de permanecer calado quando foi interrogado pelas autoridades policiais. No momento em que ele se apresentou, entregou um revólver calibre 38 com capacidade para cinco tiros com apenas uma munição intacta e outras quatro já usadas. Na sua carta, ele detalhou que comprou a arma a um bandido e que isso, de certa forma, também serviu como uma crítica ao atual sistema de desarmamento existente no Brasil.
Guilherme foi conduzido para o Centro de Detenção Provisória da Ribeira onde ficará à disposição da Justiça. O delegado Renê Lopes, que preside o inquérito e conduziu o interrogatório, disse que nesta segunda-feira 27 dará prosseguimento ao inquérito ouvindo mais testemunhas e remetendo os objetos apreendidos, inclusive a arma, para o Instituto Técnico-Científico de Polícia (ITEP) para que os mesmos sejam periciados.
O procurador-geral adjunto de Justiça, Jovino Pereira, foi baleado nas costas, enquanto que o promotor Wendel Beetoven acabou sendo atingido no tórax. Os dois já passaram por todos os procedimentos médicos e não correm risco de vida, todavia, estão sem previsão de receberem alta.
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