Mesmo em um país rico como a França, a população também sofre com o impacto da forte alta dos preços da gasolina e dos alimentos ocorridos nos últimos meses. São os maiores reajustes registrados no país em dez anos.
O aumento galopante dos preços da energia e dos combustíveis é o tema mais debatido atualmente na França, principalmente porque ocorre no momento em que as temperaturas despencam no outono e o consumo de gás e diesel aumenta no inverno com o aquecimento das casas. Enquanto no Brasil, o preço do litro da gasolina chegou a quase R$ 7 em algumas cidades, os franceses estão pagando R$ 10 o litro (1,633 euro), devido à atual crise energética mundial.
O diesel bateu o recorde de reajuste em dez anos, a R$ 9,80 o litro (1,535 euro em 8 de outubro). São valores que representam uma alta de 28% em relação a outubro do ano passado. O problema é que além dos combustíveis e da energia, os preços de alguns alimentos também dispararam.
Frutas e legumes tiveram alta de 34% em média, em um ano, depois de uma primavera excepcionalmente chuvosa que afetou 60% da colheita. A menor oferta encareceu automaticamente os produtos. O trigo, muito consumido no país da baguete, teve um aumento de 26%. Já o óleo de cozinha subiu +28% em junho e +39% em setembro, alavancado pelo aumento das matérias-primas no mercado mundial.
Em geral, os preços dos alimentos na França são mais caros do que em países vizinhos, como Alemanha, Espanha, Itália ou Portugal. O quilo da carne moída nos açougues franceses, um dos cortes mais baratos, estava custando o equivalente a R$ 69 na semana de 4 de outubro. O quilo do frango, inteiro, sem corte, custava em média o equivalente a R$ 36, segundo dados do Ministério da Agricultura e da Alimentação (www.franceagrimer.fr).
Inflação em alta
Em setembro, a taxa anual da inflação chegou a 2,2%. O banco central francês acredita que a explosão de preços será temporária, por estar ligada à retomada econômica após um ano de baixa atividade causada pela pandemia de covid-19. Mas, parte da população não tem como arcar com esses aumentos. Na vida real, a inflação no bolso do consumidor francês parece muito maior do que a apontada pelos números oficiais. Em 2019, ano de surgimento do coronavírus, a inflação anual foi de 1,1%, segundo o Insee (Instituto Nacional de Estudos e Estatísticas).
Em comparação com o Brasil, esses índices podem parecer baixos, mas, segundo estudo da consultoria Deloitte, 45% das pessoas que trabalham com contrato assinado, em emprego formal na França, não terão qualquer reajuste de salário este ano. Os trabalhadores menos qualificados, as famílias de baixa renda, estudantes que dependem de bicos para viver e desempregados são os mais impactados pela alta dos alimentos e da energia. São despesas essenciais do dia a dia.
Como baixar a conta?
O governo estuda formas para aliviar essa pressão no bolso dos consumidores. Cerca de 6 milhões de famílias pobres já recebem uma vez por ano do Estado um “cheque energia” para cobrir uma parte dos gastos com eletricidade e o aquecimento das casas. O montante pago em média é de 150 euros, o equivalente a R$ 960. Agora, com a alta dos preços da gasolina e do gás, o governo adicionou 100 euros para essas famílias, que irão receber o cheque pelo correio em dezembro.
Muitos economistas e políticos sugerem uma redução temporária dos impostos cobrados no litro dos combustíveis, que representam 60% do preço de venda nos postos. A União Europeia recomenda esta medida, entre outras, mas o governo francês hesita porque ela também iria beneficiar pessoas que compram carros grandes, modelos do tipo SUV, conscientes de que o consumo é maior. Seria injusto do ponto de vista da redistribuição, de acordo com alguns analistas, e também enviaria uma mensagem negativa em um momento em que a ordem é diminuir o consumo de combustíveis fósseis para limitar o aquecimento global.
Por outro lado, a classe média baixa, que usa carro pequeno e depende do veículo para trabalhar, não tem como absorver esses aumentos. Por isso, o governo deve anunciar novas medidas de compensação nos próximos dias.
O assunto é explosivo a seis meses das eleições presidenciais. Ninguém esquece que foi uma alta recorde nos preços do litro dos combustíveis que deu início ao movimento dos coletes amarelos em outubro de 2018.
Nenhum comentário:
Postar um comentário