Conforme o levantamento, a cada 10 pontos percentuais (p.p.) no aumento da proporção de transferências de renda sobre a massa de rendimentos está associado a uma diminuição de 1,1 p.p. na taxa de participação, com um nível de significância de 1%.
Ao explicar os resultados obtidos, o estudo aponta que o aumento das transferências sociais “pode influenciar a decisão dos trabalhadores de participar ou não do mercado de trabalho, considerando o equilíbrio entre trabalho e benefícios recebidos”.
O economista da XP Rodolfo Margato destaca uma “coincidência temporal” que reitera a relação. A queda na taxa de pessoas à procura de emprego inicia a trajetória descendente em julho de 2022, mês em que foi promulgada a proposta que elevou o valor do Auxílio Brasil a R$ 600.
“A gente vinha observando uma recuperação na taxa de participação ao longo de 2021, no primeiro semestre de 2022. E a gente viu uma interrupção neste processo de melhoria a partir do início do segundo semestre de 2022, que coincide com maiores transferências do governo, no caso, o aumento do Auxílio Brasil para R$ 600”, pontua.
Para Duque, uma solução possível para mitigar os efeitos negativos sobre a taxa de participação seria remodelar o programa.
“O desenho anterior [às recentes mudanças] do Bolsa Família privilegiava especialmente famílias com grande número de crianças. Sabemos que em famílias com grande número de crianças é muito difícil para a mãe ou o pai — geralmente a mãe — ter tempo para procurar um trabalho. Essas famílias já não estavam na força de trabalho, e o Bolsa Família tinha um impacto pequeno”, indica.
“Quando a transferência é praticamente igual para todas as famílias, independente deste tipo de variável, pode haver a redução na força de trabalho”, completa.
Ainda de acordo com a divulgação, o movimento também foi observado nos Estados Unidos. Porém, lá os impactos no emprego foram recuperados mais rapidamente em comparação à realidade brasileira.
“O país enfrentou duas ondas significativas de redução na participação da força de trabalho durante a pandemia de COVID-19. Essas ondas, ao contrário do padrão norte-americano de queda acentuada seguida de recuperação parcial, delinearam um cenário mais complexo para o mercado de trabalho brasileiro”, aponta o estudo.
Programa bate recorde de beneficiados
Segundo dados do governo federal, no último ano, o programa atendeu uma média de 21,3 milhões de famílias, ante 19,2 milhões em 2022. O investimento também aumentou, totalizando R$ 14,1 bilhões por mês, contra a estimativa de R$ 7,8 bilhões no ano anterior.
O valor médio repassado aos beneficiários foi de R$ 670,36, o maior da série histórica. Em 2022, o benefício médio foi de R$ 394,48.
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