sábado, 24 de dezembro de 2022

Paralisação de anestesistas impede mil cirurgias no RN

Exames e cirurgias eletivas estão parados na Liga Contra o Câncer, o que afeta biópsias, tomografias, ressonâncias, entre outros. Foto: Magnus Nascimento

Cerca de mil cirurgias eletivas deixaram de ser realizadas após uma semana de paralisação dos profissionais da Cooperativa dos Anestesiologistas do Rio Grande do Norte (Coopanest-RN). Sem avanço na negociação de pagamentos atrasados por parte da Prefeitura do Natal e do Governo do Estado, só os procedimentos de urgência e emergência contam com a atuação dos cooperados pelo sistema de saúde pública, enquanto as cirurgias eletivas seguem suspensas. Prestes a completar mais um mês de folha em atraso, a cooperativa afirma que a falta de previsão para quitação das dívidas pode, inclusive, afetar as escalas de plantão nas maternidades de Natal.

Até o momento, os plantões contratados pelo município estão mantidos, mas o volume em atraso acende um alerta nos anestesiologistas, de acordo com o presidente da Cooopanest, Vinícius da Luz. “Daqui a pouco os próprios cooperados de plantões vão começar a reclamar do não recebimento, vai ter redução das escalas também das maternidades. É o que eu acredito. Eu não vou ter como obrigar as pessoas trabalharem sem receber nada”, afirmou o representante dos profissionais. A TRIBUNA DO NORE procurou a Prefeitura de Natal e o Governo do Estado, mas até o fechamento não houve resposta. O espaço segue aberto para manifestação.


Em virtude da paralisação, serviços prestados pela rede do Sistema Único de Saúde (SUS), fora as demandas emergenciais, têm sido afetados. Na Liga Contra o Câncer, os exames e cirurgias eletivas estão suspensas. Isso significa dizer que pacientes que não apresentam  quadros de urgência não conseguem fazer biópsias, ressonâncias, tomografias, endoscopias e colonoscopias, de acordo com a coordenadora de anestesiologia da unidade, Aline Tavares.

“Esses exames, a gente infelizmente teve que suspender por não ter caráter emergencial. Então vai ocasionar atraso de diagnóstico de pacientes que estão na lista de espera há bastante tempo aguardando esses exames para ter um diagnóstico e ter o seu tratamento”, disse a coordenadora Aline Tavares. Antes da paralisação, cerca de 50 exames como esses eram feitos diariamente na Liga Contra o Câncer. 


Associado a isso, as cirurgias eletivas também estão paralisadas. Em média, o corpo clínico da Liga consegue realizar de 30 a 35 procedimentos por dia, mas devido ao movimento paredista, só os casos de urgência têm tido prosseguimento. “Só nessa terça-feira, houve 29 cirurgias suspensas. Os tratamentos que já haviam iniciado, de radioterapia e quimioterapia a gente não suspende porque ocasiona piora de prognóstico, então a gente manteve. Então tudo que ocasiona risco iminente à vida não está sendo suspenso, é importante frisar isso. Porém, o impacto é grande”, detalhou Aline Tavares.


O cenário da Liga é semelhante ao do Hospital Memorial São Francisco para pacientes advindos do SUS. De acordo com o coordenador de anestesia do centro cirúrgico da unidade, Mateus Revoredo, as cirurgias realizadas nessa quarta-feira (21) foram todas de pacientes conveniados do hospital. A média de procedimentos na unidade é de 30 cirurgias por dia.


“A gente torce para que essa situação que motivou a paralisação se resolva logo, até porque ninguém gosta de ficar parado. Nesse período, a gente mantém o atendimento a urgências e emergências, como fomos orientados pela própria Coopanest, mas cirurgias eletivas não. E fica assim, um volume alto que a gente tem lá”, afirmou Mateus Revoredo.


O presidente da Coopanest afirmou que tem tentado estabelecer tratativas com os poderes executivos estadual e municipal, mas encontra dificuldades. Com o Governo do Estado, a última parcela de R$ 231 mil referentes a dívidas de salários em atraso  do ano de 2021 foi depositada, na terça-feira (20), para a prefeitura. Além disso, o repasse relacionado ao mês de julho, totalizando cerca de R$ 1 milhão, que ainda não foi concluído. A previsão do governo é quitar o pagamento da cooperativa até o fim deste mês de dezembro.


Por outro lado, a Prefeitura de Natal também deve um valor de aproximadamente R$ 1 milhão à cooperativa. Soma-se a isso o dinheiro repassado pelo Governo do Estado e pela União, que devem ser encaminhados aos anestesiologistas cooperados.  A Coopanest alega que não tem conseguido diálogo com os representantes do município  e que não foi apresentada nenhuma proposta ou previsão de pagamento.   


Sem contar com os R$ 231 mil depositados pelo poder executivo estadual à prefeitura, que ainda estão pendentes de repasse ao profissionais, o montante de R$ 2,1 milhões está em atraso com a cooperativa pelos dois entes. Com as folhas de agosto a se encerrar no próximo dia 30, a dívida poderá chegar a R$ 4,7 milhões.


Maternidades também podem ser afetadas
A Coopanest também tem contratos para atendimentos em escalas de plantão nas maternidades municipais de Natal: Araken Pinto e Leide Morais. Atualmente, esses serviços não são afetados pela paralisação dos anestesiologistas, mas vai se abrir a possibilidade de desfalque se os valores atrasados não forem pagos, segundo o presidente da cooperativa, Vinícius da Luz.


“Existe essa possibilidade, mas não é o que estamos fazendo no momento. E isso pode acontecer não por indicação da cooperativa, mas porque os profissionais vão acabar parando de trabalhar pela falta de recebimento. Vai acontecer de o anestesista falar ‘eu não vou mais porque eu não estou recebendo há alguns meses e eu não tenho mais interesse’. Isso vai afetar o sistema materno-infantil”, disse o presidente.


Vinícius da Luz lembra que a rede municipal tem anestesiologistas estatutários que trabalham juntos com os cooperados e que ficariam  sobrecarregados em caso de suspensão do cumprimento das escalas. “Se não for tomada nenhuma atitude nas próximas semanas, eu acredito que pode ocorrer prejuízo para as escalas de plantão já na primeira quinzena de janeiro. Porque veraneio é um período que o pessoal está de férias, naturalmente já é difícil fechar as escalas e ainda mais sem pagar”, concluiu.

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