Mais casos confirmados, novas variantes, redução de mortes, queda nas internações e avanço da vacinação. Esse foi o cenário da covid-19 no Rio Grande do Norte em 2022. Dados divulgados pela Secretaria de Estado de Saúde Pública (Sesap) e compilados pela Tribuna do Norte mostram que de janeiro a dezembro deste ano, o estado registrou redução de 82,3% nos óbitos e um crescimento de 39,3% no diagnóstico de novos casos frente ao mesmo período de 2021. Em números absolutos, neste intervalo, as mortes despencaram de 4.668 para 823. Já os casos subiram de 246.661 para 343.605. Especialistas destacam vacinação e projetam 2023.
A médica infectologista Marise Reis diz que os dados refletem o impacto positivo da vacinação. “O surgimento de variantes foi um fenômeno que aconteceu internacionalmente e teve repercussão por aqui. No entanto, o fato de termos investido em vacinação da população trouxe esse impacto positivo que foi essa grande redução. Então assim, como é que se tem um aumento significativo no número de casos e isso não repercute nas mortes? Por causa da vacina. A gente tem uma proporção vacinada em um nível que nos assegura isso”, destaca a profissional.
O epidemiologista Ion de Andrade reforça que os resultados de 2022 no âmbito do combate à pandemia confirmam uma lógica científica. “É o que as vacinas previam antes mesmo delas serem aplicadas. Isso confirma o que foi antecipado pelos laboratórios produtores, que mostraram que as vacinas tinham um efeito sobre a gravidade e um efeito menor sobre a transmissibilidade. Então, o ocorrido no ano de 2022 com o aumento do número de casos e diminuição do número de óbitos tem a ver com o perfil previsto nos protocolos das vacinas”, complementa o médico e pesquisador.
O RN hoje está com a taxa de ocupação de leitos críticos em 59,6%, com 31 pacientes internados em leitos críticos e outros 27 em leitos de enfermaria. Ao todo, o Estado tem hoje 154 leitos instalados, sendo 66 críticos e 88 clínicos, de acordo com o Regula RN. “No pico da pandemia, nós chegamos a ter 430 pacientes internados em UTI e agora nesse último pico, entre novembro e dezembro, nós chegamos a ter no máximo 45 pacientes internados em UTI com covid-19. Então, é outro indicativo positivo porque a vacina reduziu o internamento e consequentemente reduziu o óbito”, destaca Ricardo Valentim, diretor do Laboratório de Inovação em Saúde da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (LAIS/UFRN).
Quanto à vacinação, a porcentagem garante certa tranquilidade à Saúde do Estado, mas Comitê de Especialistas da Sesap reforça que a população procure completar o esquema vacinal. São 95% da população vacinada com a primeira dose (D1) e 87% com a segunda dose (D2). Além de 55% de vacinados com a primeira dose de reforço (D3) e apenas 24% com a segunda dose de reforço (D4).
A subcoordenadora de Vigilância Sanitária da Sesap, Diana Rêgo, diz que a campanha de imunização contra a covid-19 foi a maior da história. “Foi a maior campanha de vacinação que o Brasil já teve e hoje fazemos uma avaliação do esforço e dedicação dos profissionais que atuaram nesse processo”, destaca.
Para 2023, os especialistas ouvidos pela Tribuna do Norte alertam para a possibilidade de um novo repique sazonal no início do ano, que deve trazer um aumento nas infecções, mas com uma repercussão de menor impacto nos óbitos. “Devemos ficar atentos. Há uma nova onda surgindo na China e teremos a possibilidade de lidar com novas variantes surgindo. Fatalmente vão surgir novas variantes e forma de nos protegermos, para além de todos os cuidados que as pessoas já sabem, é vacinar”, destaca a médica e pesquisadora da UFRN Marise Reis.
O diretor do LAIS, Ricardo Valentim, acrescenta que o Estado não deve ter grandes explosões de casos. “Muito provavelmente a gente vá ter o que a gente teve agora no final do ano. Vamos ter pequenas subidas e rápidas descidas. O pico desta vez ocorreu em 4 de dezembro, quando tivemos cerca de 1 mil casos, sendo que na época da variante ômicron a gente chegou a ter 12 mil casos. A gente também terá a introdução de vacinas de nova geração, que são vacinas bivalentes que protegem contra a primeira versão do vírus e também contra as variantes”, destaca Valentim.
Estado planeja ampliar vacinação
A Secretaria de Estado da Saúde Pública (Sesap), por meio do Programa Estadual de Imunizações, reuniu gestores e técnicos da área para traçar estratégias de avanço da vacinação no próximo ano. A ideia é reforçar a imunização contra a covid-19 nos públicos que ainda não tomaram as doses D3 e D4, além de conscientizar os pais para a imunização das crianças. “Fazemos apelo à população para que tome a vacina, pois viveremos momentos de aumento da circulação do vírus e precisamos proteger principalmente idosos, crianças e imunossuprimidos”, ressalta Diana Rêgo, subcoordenadora de Vigilância Sanitária.
O aprimoramento da plataforma RN Mais Vacina também é outro objetivo da pasta para o ano que vem. Lançado em janeiro de 2021, em parceria com o Laboratório de Inovação Tecnológica em Saúde (LAIS) da UFRN, o sistema promoveu maior controle e transparência à campanha contra a covid-19. Em 2022 passou a incorporar outras campanhas e a partir de 2023 incluirá a vacinação de rotina e informações úteis aos usuários a respeito da necessidade de proteção contra as doenças.
Desde o lançamento a plataforma contabiliza 10 milhões de doses registradas, sendo 8,3 milhões de doses contra a Covid-19 e mais de 1 milhão da campanha de influenza 2022. Foram emitidos mais de 15 milhões de cartões digitais de vacinação. No RN+Vacina estão cadastrados mais de 90% da população do Rio Grande do Norte. Fernando Lucas, do LAIS, lembrou o início da operação do sistema, que alcançou 3 milhões de acessos na semana do lançamento, em 18 de janeiro de 2021. “Em 2022 tivemos o desafio de incluir outras campanhas e agora estamos nos preparando para incluir a vacinação de rotina”, pontuou.
China preocupa OMS
O diretor-geral da Organização Mundial de Saúde (OMS), Tedros Adhanom Ghebreyesus, afirmou nesta quarta-feira (21), que a entidade está “muito preocupada” a respeito de como a situação da covid-19 se desenvolve na China, “com crescentes relatos de doença grave”, conforme o país relaxa medidas para conter o vírus. Durante entrevista coletiva, Tedros Adhanom disse que a OMS continua a apoiar os esforços de Pequim para vacinar pessoas de mais risco pelo país e que continuará a oferecer seu apoio para cuidados clínicos e a proteção do sistema de saúde local.
“A fim de ter uma avaliação de risco abrangente da situação no local, a OMS precisa de informação mais detalhada sobre gravidade da doença, entradas em hospitais e pedidos por apoio de unidades de terapia intensiva”, comentou Adhanom. Na coletiva, a autoridade disse também ainda esperar que a China compartilhe dados e conduza estudos requisitados, “e os quais continuamos a requisitar”. Segundo ele, todas as hipóteses sobre as origens do vírus que provocou a pandemia continuam sobre a mesa.
Tedros Adhanom disse que “certamente, estamos em posição muito melhor na pandemia da covid-19 que um ano atrás”, quando começava a onda de casos da Ômicron, com alta forte em casos e mortes. Desde o pico do fim de janeiro, o número de mortes semanais reportadas pelo vírus recuou quase 90%, notou. Ele ainda disse esperar que essa emergência de saúde “seja declarada encerrada” em algum momento de 2023, não especificado.
Covid no RN
2020 – 146,3 mil casos e 3,1 mil mortes;
2021 – 246,6 mil casos e 4,6 mil mortes;
2022 – 343,6 mil casos e 823 mortes.
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