Uma doença extremamente infecciosa, que provocou o colapso de sistemas de saúde e matou mais de cem mil pessoas em poucos meses é o cenário perfeito para a aplicação de robôs. Eles são imunes ao contágio e podem trabalhar ininterruptamente, reduzindo a exposição de profissionais de saúde aos riscos.
Com a pandemia do novo coronavírus, máquinas inteligentes ganharam espaço na linha de frente do tratamento da Covid-19, mas, segundo especialistas, não em número suficiente para, sozinhos, vencer esta guerra.
— Talvez não para esta pandemia, mas para futuras estaremos preparados. Nós estamos em uma emergência, então só podemos usar o que temos disponível. E existe um número limitado de robôs, porque não os desenvolvemos para combater esta pandemia, que já era previsível — lamenta Paolo Dario, pesquisador da Sant’Anna School of Advanced Studies, em Pisa, na Itália. — Algumas soluções estão disponíveis e, de fato, estão sendo usadas, mas muito mais poderá ser feito para o futuro.
Nos últimos anos, o desenvolvimento de robôs hospitalares focou no contato direto com o paciente, como braços robóticos para a realização de cirurgias. Muitos hospitais, inclusive no Brasil, já têm robôs cirurgiões, mas eles são de pouca valia na crise atual.
Pela facilidade de contágio, o volume de pacientes ultrapassa a capacidade dos hospitais, e os profissionais de saúde precisam lidar com o risco de contaminação e o excesso de trabalho. Apenas na Itália, mais de uma centena de médicos e enfermeiros já morreram de Covid-19, a doença provocada pelo vírus. Por isso, hospitais estão adaptando robôs para esse trabalho durante a crise.
Na China, a Ubtech está testando seus robôs corporativos — Cruzr e Aimbot — no Third People’s Hospital, em Shenzhen. Desenvolvido originalmente como um robô de monitoramento de ambientes, o Aimbot ganhou sensores para medir temperatura corporal e detectar uso de máscaras em grupos de até 15 pessoas, alertando quando alguém com febre não está vestindo equipamentos de proteção. Também foi equipado com desinfetantes para esterilização.
Adaptar o que existe
O Cruzr, criado para a recepção de clientes em hotéis, aeroportos e outros estabelecimentos, está sendo testado como atendente hospitalar. Na entrada, os pacientes interagem com a máquina, informando os sintomas e recebendo as primeiras instruções. É possível conversar com um médico, que atende por vídeo de um local seguro.
O Cruzr, criado para a recepção de clientes em hotéis, aeroportos e outros estabelecimentos, está sendo testado como atendente hospitalar. Na entrada, os pacientes interagem com a máquina, informando os sintomas e recebendo as primeiras instruções. É possível conversar com um médico, que atende por vídeo de um local seguro.
— Na robótica, assim como em outros campos, é válido considerar como você pode adaptar a tecnologia para lidar com uma emergência — afirma Russell H. Taylor, da Universidade Johns Hopkins, em Baltimore, nos EUA. — E é isso o que a comunidade de robótica está discutindo: o que podemos fazer agora?
As soluções que estão surgindo vão desde as mais complexas, como as testadas em Shenzhen, a ideias mais simples, mas também eficazes. É o caso do uso de robôs de telepresença (basicamente um tablet acoplado a um cabo com rodas) para o monitoramento e a comunicação com pacientes em UTIs.
O hospital Circolo di Varese, na Lombardia, Itália, recebeu no fim do mês passado seis dessas máquinas, algumas com corpo humanoide, que estão acompanhando 12 leitos de UTI. Pela câmera dos robôs, os profissionais de saúde ficam em segurança enquanto monitoram pacientes e equipamentos dos leitos. Podem conversar de forma tranquila, sem os pesados e incômodos equipamentos de proteção.
— Obviamente, os robôs não eliminam o contato humano com o paciente, mas reduzem o acesso — avalia Francesco Dentali, diretor do Departamento de Alta Complexidade do Circolo. — De fato, economizamos o tempo de vestir e despir, com impacto significativo no nosso trabalho.
Na Universidade Johns Hopkins, pesquisadores exploram a possibilidade de usar robôs não apenas para comunicação, mas para a execução de pequenas tarefas, como ajustes nos ventiladores mecânicos que auxiliam a respiração dos pacientes.
— Basicamente, para apertar botões sem que uma pessoa tenha que entrar nos quartos, porque quando isso acontece, mesmo para um ajuste mínimo, é preciso vestir o traje de proteção completo — explica Taylor. — Isso custa muito tempo, e os estoques desses equipamentos estão baixos.
O especialista cita outros campos onde a robótica está auxiliando no combate à pandemia. Longe dos olhares do público, laboratórios investem em máquinas que manipulam amostras, oferecendo mais segurança e aumentando a produtividade, o que é essencial nesta pandemia.
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