Foto: Getty Images/Jorg Greuel
As incertezas acerca dos rumos da política fiscal que serão tomados pelo governo eleito de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) preocupa o mercado, que já vê a taxa Selic em 15% na primeira metade de 2023, conforme a curva de juros futuros.
Como consequência de críticas feitas pelo presidente eleito a respeito das políticas de corte de gastos, da demora no anúncio de um nome para chefiar a Fazenda e da apresentação da minuta da PEC do Estouro, que prevê gastos de R$ 198 bilhões fora do teto e nenhuma âncora fiscal, os juros futuros chegaram na véspera ao maior patamar desde 2016, como mostram dados da B3 compilados pela TradeMap (veja no gráfico).
“(Esse comportamento dos juros mostra que) o mercado está pedindo um prêmio, dado que o governo eleito está decidindo primeiro indicar o aumento de gastos que ocorrerá nos próximos anos, sem indicar como esse gasto será financiado”, explica Tony Volpon, ex-diretor do Banco Central.
O especialista explica que há três formas de financiamento de gastos novos: aumento de tributos, cortes em outras despesas ou uma combinação de inflação mais juros. “Dado que o governo não tem sido muito transparente com qual combinação desses três instrumentos será utilizada para financiar esse gasto extra, o mercado pede um prêmio bem acima daquilo que seria razoável em função dessa incerteza”, diz.
Para o economista, é improvável que a Selic chegue de fato a 15% no próximo ano, mas o comportamento do mercado é um importante alerta para o governo.
“Acho um pouco exagerado falarmos em 15% de Selic na primeira parte de 2023, não estamos entrando num cenário que vivemos em 2015 e 2016, mas esse comportamento é um importante sinal de alerta para que o governo eleito defina o mais rápido possível como eles pretendem financiar esse gasto extra”, diz.
O Boletim Focus desta semana mostra que o mercado passou a ver uma taxa Selic terminal maior em 2023, de 11,50%, após 10 semanas consecutivas em 11,25%. Para este ano, o valor foi mantido em 13,75%.
É importante ressaltar que as previsões compiladas pelo Banco Central no Focus em contato com as principais instituições financeiras diferem das transmitidas nas curvas de juros futuros, que são formadas pelas negociações diárias do mercado e, portanto, muito mais voláteis. Os juros futuros são uma formação de preço, assim como funciona na bolsa de valores ou com o câmbio, com base na exigência maior ou menor de investidores em relação ao prêmio de risco para comprar um título de dívida.
O Focus dessa semana também mostrou uma alta na previsão sobre o câmbio, que passou de R$ 5,20 para R$ 5,25 em 2022 e para R$ 5,24 em 2023. Essas alterações foram as primeiras após 16 semanas.
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