Em construção em uma extensa área à beira-mar doada no município de Touros, a 90 Km de Natal, o resort Vila Galé, empreendimento pertencente ao grupo português homônimo e que reúne investimentos da ordem de R$ 100 milhões no Rio Grande do Norte, está na fase da aquisição de móveis para mais de 500 apartamentos e áreas comuns, bem como mais de 1 mil portas. Apenas nesta parte do projeto, a aplicação de recursos é de cerca de R$ 4 milhões – dinheiro este que está prestes a ser injetado na economia de estados vizinhos, segundo denunciam empresários do setor moveleiro potiguar.
Representantes do segmento ouvidos pelo Portal Agora RN/Agora Jornal alegam “desprestígio” em relação a concorrentes da Paraíba e do Ceará. Segundo eles, apesar de empresas potiguares terem capacidade técnica de produção, terem portfólio diversificado e preços competitivos, os agentes do grupo português responsável pelo resort desqualificam a produção local. Além disso, o fator proximidade – que facilita serviços futuros de assistência técnica – está sendo ignorado, de acordo com integrantes do ramo.
“Um montante de R$ 4 milhões está sendo jogado para fora do estado do Rio Grande do Norte, gerando emprego e renda para outros. O estado que cedeu sua terra e sua praia não está tendo prioridade”, desabafa um empresário que prefere não se identificar.
Ele conta que, caso a compra dos produtos fosse realizada no mercado local, não apenas o setor moveleiro potiguar sairia beneficiado, haja vista que fornecedores de matérias-primas como madeiras maciças, granitos, vidros, espelhos, tubos de aço, ferragens, chapas de madeira, cola e vernizes – usados na execução das peças –, além da mão de obra para instalação e fretes seriam todos locais.
A alegação dos responsáveis pelo Vila Galé para o “desprestígio”, segundo conta a fonte da reportagem, é que os potiguares não têm condições de fornecer o produto nos padrões exigidos pela companhia. “Isso não é verdade, pois já instalamos esses produtos em dezenas de outros hotéis. Há um grupo de empresas ligadas ao Sindmóveis [Sindicato da indústria Moveleira do RN] que pretende fornecer o mobiliário para o hotel, gerando emprego e renda, além de impostos, para o estado”, contesta.
Representantes do setor moveleiro potiguar questionam também a qualidade dos produtos que estão prestes a serem adquiridos pelo grupo português junto a empresas da Paraíba e do Ceará. “Mostramos para eles uma cadeira que montamos em um hotel que está há 21 anos sem apresentar defeito, mas isso não vale nada. Eles vão comprar uma cadeira cujas unidades quebram constantemente”, critica.
INTERLOCUÇÃO
Integrantes do ramo afirmam que tentaram apresentar as contestações para a gerência do grupo por meio da Federação das Indústrias do Rio Grande do Norte (Fiern), mas o contato não foi exitoso, apesar de representantes do grupo visitarem o estado constantemente.
O setor moveleiro potiguar reclama ainda do pouco poder de persuasão do Governo do Estado – que ofereceu uma série de incentivos para o grupo Vila Galé se instalar no Rio Grande do Norte, mas não recebeu como contrapartida a garantia da compra de produtos no mercado regional. “O Governo do Estado não tem o poder de influenciar a compra do mobiliário e outros materiais”, diz o empresário.
“Uma empresa que vai se instalar aqui no Rio Grande do Norte não está obrigado a comprar os materiais de suas instalações em empresas locais. Mas, se o Governo do Estado, através de um contrato prévio, criasse cláusulas que dessem prioridade às empresas locais no tocante às compras necessárias ao empreendimento, isso seria melhor ‘amarrado’”, reclama.
De acordo com o empresário, tal compromisso seria uma forma de a empresa compensar os benefícios que recebeu do Poder Público para se instalar no estado. “Nesse meio tempo, o governo acabou de autorizar a construção de uma estrada de acesso exclusivo ao hotel, via essa que será construída com dinheiro do povo potiguar. O custo dessa estrada é proveniente dos nossos impostos, que pagamos aos cofres públicos. Além disso, o Vila Galé ganhou também um terreno (de dezenas de hectares) à beira-mar e vários incentivos fiscais por dez anos, como a isenção de pagar o ISS”, complementa.
A inércia do governo potiguar é criticada pelo empresário do setor moveleiro. “O Ceará é conhecido por valorizar as empresas locais com ações firmes e concretas, não é faz de conta. Por isso, é um estado que passou da pobreza geral a uma grande economia. Os políticos cearenses se unem com os empresários na luta a favor do crescimento do seu estado. Aqui, o estado trata com hostilidade os empresários e não tem uma cultura de união. Pensamos pequeno e, por isso, somos pequenos”, finaliza.
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