sábado, 21 de julho de 2018

Tecnologias de reconhecimento facial se popularizam e levantam debate



O Serviço de Proteção ao Crédito (SPC) anunciou ontem (20) a oferta de uma tecnologia de reconhecimento facial para comerciantes. Lojistas poderão instalar o sistema, que vai registrar traços faciais e validar a identidade do comprador. Os dados serão armazenados no banco de dados do SPC, junto com outras informações sobre a pessoa.

Além da confirmação da identidade, a tecnologia permitirá ao dono do estabelecimento melhorar a consulta às informações do pagador, incluindo a chamada “nota de crédito” (índice de probabilidade de quitação adequada a partir do histórico de crédito da pessoa). Esse tipo de análise deverá ser potencializada caso a lei do cadastro positivo (que torna o compartilhamento de dados de crédito obrigatório, sem necessidade de consentimento) seja aprovada no Congresso.

Em comunicado, o SPC justificou a medida argumentando que a solução protege o lojista ao mitigar perdas e o consumidor ao evitar a possibilidade de obtenção de vantagem com roubo de informações pessoais, como número de cartão de crédito. A adoção desse tipo de solução técnica é um exemplo de como os mecanismos de reconhecimento e detecção facial estão sendo disseminados no Brasil e no mundo.

Em abril deste ano, a empresa responsável pela concessão da linha 4 do metrô da cidade de São Paulo, Via Quatro, instalou no transporte público um sistema que detecta as reações de quem visualiza anúncios em telões nas estações e nos vagões. O objetivo, segundo a empresa, é a obtenção de respostas para direcionar melhor as mensagens veiculadas nos painéis.

De acordo com a assessoria da concessionária, o sistema trabalha com detecção facial, e não reconhecimento facial. O primeiro mapeia reações a partir da leitura das imagens de rostos, enquanto o segundo identifica se a câmera está filmando determinada pessoa. A assessoria acrescentou à Agência Brasil que o sistema não permite a possibilidade de armazenamento ou gravação de imagens.

Popularização

O uso de tecnologias de reconhecimento facial vem se popularizando no Brasil e no mundo. Esse processo é acelerado pela criação de aplicações variadas para o recurso. Além da diversificação, o avanço nas técnicas de inteligência artificial tem aumentado a precisão tanto da capacidade de reconhecimento de pessoas quanto do mapeamento de diferentes expressões.

Outro fator de difusão é o barateamento desses sistemas. Um exemplo é a plataforma SAFR – sigla, em inglês, para “Reconhecimento Facial Seguro e Preciso” – lançada pela empresa RealNetworks neste mês. O sistema, disponível gratuitamente nos Estados Unidos e no Canadá, oferece ferramentas baseadas em inteligência artificial de reconhecimento facial de pessoas em tempo real para escolas e outros ambientes. Ela está disponível para download gratuito a escolas dos Estados Unidos e do Canadá.

Segundo a companhia, a ferramenta consegue monitorar milhões de rostos com 99,8% de precisão. No material promocional, o produto é apresentado como uma solução para vigiar e combater ameaças internas e externas, como a presença de pessoas não matriculadas. Mais do que apenas reconhecimento de pessoas, o sistema também identifica emoções e reações por meio das expressões monitoradas. Os responsáveis pela plataforma afirmam que querem tornar as escolas um ambiente mais seguro, especialmente frente ao cenário de episódios recorrentes de ataques armados em instituições de ensino.

Na China uma ferramenta chamada SenseVideo passou a ser vendida no ano passado com funcionalidades de reconhecimento de faces e de objetos. Mas a iniciativa mais polêmica tem sido o uso de câmeras para monitorar atos e movimentações de cidadãos com o intuito de estabelecer “notas sociais” para cada pessoa, que podem ser usada para finalidades diversas, inclusive diferenciar acesso a serviços ou até mesmo gerar sanções.

Na Rússia, o aplicativo FindFace também foi alvo de questionamentos no ano passado ao permitir a localização de pessoas a partir do perfil delas em uma rede social popular no país (Vkontakte). Ele incorporou a capacidade de mapear emoções e reações a partir da leitura dos traços de rostos. A capacidade de monitoramento levantou receios acerca das possibilidades de uso deste tipo de solução durante a Copa do Mundo deste ano, embora não tenha havido confirmações específicas nesse sentido.

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