quarta-feira, 11 de julho de 2018

Boatos sobre zika têm engajamento três vezes maior que notícias verdadeiras


Surtos ou epidemias de doenças são situações que facilitam o surgimento de boatos e desinformação, que podem atrapalhar estratégias de saúde pública e alastrar pânico entre a população. Uma pesquisa publicada na quinta-feira, 7, no American Journal of Health Education mostra como informações falsas ganham mais força em crises. Análise de publicações em redes sociais sobre o vírus zika publicadas de fevereiro de 2016 a janeiro de 2017 mostrou que rumores tiveram três vezes mais engajamento do que notícias verificadas por meio de fact-checking, ou seja, a checagem de fatos.
Entre os boatos mais populares, estavam aqueles que colocavam a zika como uma conspiração contra o público, como um problema de baixo risco ou que conectavam a doença ao uso de pesticidas. Os pesquisadores também encontraram histórias mais inusitadas, como uma em que Nostradamus teria previsto o surto do vírus e a vitória do democrata Bernie Sanders na eleição presidencial dos Estados Unidos. “Mas pelo menos essa história é menos danosa que outras histórias que tentaram deslegitimar os esforços do Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CDC) para combater o vírus”, diz a pesquisadora da University of South Florida Silvia Sommariva, principal autora do estudo.
Segundo a especialista, o maior estrago provocado pela proliferação de boatos sobre saúde pública é que eles podem levar as pessoas a acreditarem que não precisam se prevenir – ou, ainda pior, que devem tomar medidas equivocadas. “A comunicação é primordial nessas situações. As notícias falsas criam barulho e tornam as coisas ainda mais difíceis para instituições de saúde e para fontes confiáveis passarem suas mensagens.”
Foram examinadas as 120 matérias mais compartilhadas sobre o tema, sendo 66% de mídia alternativa, 25% da imprensa tradicional, 6% de mídia tradicional-digital e 3% de organizações científicas. Ao todo, 27 foram consideradas rumores e 92 como histórias verificadas. Houve ainda um texto classificado como sátira.  Embora em menor número, as notícias falsas tiveram engajamento muito maior nas redes sociais. Entre os boatos, 81% eram totalmente fabricados, sem nenhuma conexão com a realidade, enquanto o resto misturava verdades e mentiras no mesmo texto.
Os pesquisadores da University of South Florida analisaram links compartilhados no Facebook, Twitter, LinkedIn, Pinterest e Google+ que continham os termos “zika” e “zika virus”. Eles selecionaram as dez matérias mais lidas de cada um dos 12 meses em que a doença foi considerada uma emergência internacional de saúde pública pela Organização Mundial da Saúde (OMS). As reportagens então foram verificadas pelo diretor da International Fact-Checking Network, Alexios Mantzarlis, para procurar erros factuais. A metodologia de checagem usada é a proposta pela organização First Draft, da Universidade de Harvard.
Mas por que os rumores são tão mais populares que as histórias falsas? Segundo Sommariva, é difícil apontar apenas uma razão – uma possível explicação é que, durante crises de saúde pública, instituições governamentais têm dificuldade de organizar a comunicação de forma rápida e eficaz. O que sobra é um vácuo de informação, que é quase que imediatamente preenchido pela produção de fake news. Isso ocorre porque, com medo, as pessoas querem encontrar respostas para suas inquietudes.
“Pesquisas têm demonstrado que, quando surtos de doenças são anunciados, as pesquisas online tendem a incluir um tipo de linguagem motivada pela ansiedade”, observa Silvia. “Isso provavelmente leva os usuários a encontrar fontes de informação que contêm o mesmo tipo de linguagem – que têm mais chances de serem notícias sensacionalistas do que fontes confiáveis”.
Para Silvia, a imprensa, as instituições e especialistas em saúde pública têm feito um ótimo trabalho em situações como essa. Para avançar no combate à desinformação, ela considera essencial elaborar estratégias coordenadas nas mídias sociais para limitar o alcance das mentiras. “Algumas plataformas já estão trabalhando em parceria com checadores de informação em prol disso, e eu vejo uma importância grande da expertise de pesquisadores de saúde pública nessas parcerias.”

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