domingo, 23 de abril de 2017

União para provar que Cabral chegou primeiro ao Rio Grande do Norte


União para provar que Cabral chegou primeiro ao Rio Grande do Norte

SÃO MIGUEL DO GOSTOSO (RN) — Onde o Brasil foi descoberto? A resposta está na ponta da língua de todo mundo: Porto Seguro, na Bahia, em 22 de abril de 1500. Mas você está certo disso? Esta é a questão que a Secretaria do Turismo do Rio Grande do Norte, com participação de professores e pesquisadores locais, quer estimular para reescrever os livros de História e atrair mais turistas para a bela região de São Miguel do Gostoso, no litoral potiguar, por onde Pedro Álvares Cabral teria passado.
A programação da Secretaria do Turismo incluía um seminário para debater o assunto e trazer mais luz sobre a tese nas comemorações deste 22 de abril, mas a escassez de verba adiou o evento para o segundo semestre. O jeito foi se contentar, por enquanto, com uma mesa de debate durante recente feira de turismo.
— É difícil provar o óbvio. No debate, concluiu-se que até a história começa errada no Brasil. Queremos construir algo na Praia do Marco. O verdadeiro local do descobrimento é aqui. Estamos terminando um plano de marketing que diz: ‘Rio Grande do Norte: o Brasil começa aqui’ — diz o secretário do Turismo, Ruy Pereira Gaspar.
Entre os principais defensores da versão está o historiador potiguar Lenine Pinto, com os livros “Reinvenção do Descobrimento” (1998) e “Ainda a Questão do Descobrimento” (2000). Os argumentos que tentam derrubar a versão oficial apontam principalmente para as correntes marítimas do Atlântico.
— Sou navegadora oceânica, conheço a dificuldade. Toda a condição de vento no Atlântico é favorável à chegada das embarcações de Cabral aqui. Depois de Cabo Verde, em 8 graus latitude Norte, você tem área de calmaria. Em seguida, o navegador encontra os ventos alísios e a corrente que cruza Fernando de Noronha, que o jogam violentamente para a costa do Rio Grande do Norte — defende a professora de turismo Rosana Mazaro, de 52 anos, da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, que coopera com a organização do seminário sobre o redescobrimento.
A tese também defende que o monte descrito por Pero Vaz Caminha não seria o Monte Pascoal, na Bahia.
— Temos aqui o Pico do Cabugi, que é um vulcão extinto. É visível do mar. A outra questão é a presença de aguada, descrito na Carta de Caminha. O litoral potiguar é repleto de lagoas de água doce, que não é característica de Porto Seguro — diz ela.
Os defensores da tese se apegam ainda ao mais antigo marco do Brasil, fincado em 1501, na Praia do Marco, em Touros, a 128 quilômetros de Natal.
— No mapa português, consta que eles navegaram duas mil léguas ao Sul do país para colocar o segundo marco. A distância é a mesma do Rio Grande do Norte a São Paulo. Se o primeiro marco estivesse em Porto Seguro, na Bahia, o segundo marco teria de ser colocado onde hoje é a Argentina — compara Rosana Mazaro, que defende que novas pesquisas por documentos sejam realizadas em Portugal para comprovar a versão.
A possibilidade de ser reconhecido como o lugar onde o Brasil foi descoberto anima o setor turístico. As praias do litoral da região de São Miguel do Gostoso já formam o terceiro polo de atração de visitantes no estado, atrás apenas da capital e de Pipa. As principais praias são a do Marco, de Tourinhos e de São José, em Touros. As praias de Galinhos, mais ao Norte, também são muito visitadas.
Empresário em São Miguel do Gostoso, Sebah Campos, de 37 anos, há 12 na cidade, prepara um documentário para divulgar a tese que poderá dar um incremento ao turismo.
— O projeto de documentário, de 54 minutos, está orçado em R$ 450 mil. Todos, como a diretora e os roteiristas, abraçaram a causa. É claro que vão ganhar. Mas é uma história tão bacana que todos estão se esforçando muito. Precisamos improvisar para preparar o projeto. Tem um especialista em planilha de produção, bem detalhada, que perdeu um mês com a gente. Eu paguei o trabalho com pizza — observa Sebah.

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