quinta-feira, 27 de setembro de 2018

Estado tem papel estratégico no desenvolvimento da Indústria 4.0 no Brasil

O desenvolvimento da Indústria 4.0 no Brasil depende de estratégia nacional para ser bem-sucedido. O uso estratégico do poder de compra do Estado e a construção de mecanismos de investimento eficazes exercerá papel fundamental no desenvolvimento de empresas de base tecnológica (startups).
O apoio à oferta de serviços tecnológicos voltados à difusão de tecnologias digitais, combinado com a oferta de financiamento em condições adequadas, sobretudo para PMEs, será decisivo para estimular a decisão da iniciativa privada de investir na modernização tecnológica, avalia a Confederação Nacional da Indústria (CNI) no estudo Indústria 4.0 e Digitalização da Economia, que integra série de 43 propostas apresentadas pela entidade aos candidatos à Presidência da República.
Entre as possibilidades levantadas pela confederação, diante da perspectiva de restrição fiscal, está a estruturação de um programa de compras públicas com foco na aquisição de tecnologias digitais associadas aos serviços prestados pelo Estado à população, como soluções inovadoras para mobilidade urbana, saúde, energia e segurança. Só entre 2012 e setembro de 2017, os governos compraram R$ 306 bilhões – nos órgãos registrados no Sistema de Serviços Gerais.
SOLUÇÕES – Por meio do mecanismo de compras públicas, o governo pode incentivar a geração e a adoção de soluções digitais. Demandas do Estado voltadas para a gestão de sistemas de transporte e para as áreas de energia, de segurança e de saúde, por exemplo.
“Seriam iniciativas que contribuiriam para a difusão de tecnologias baseadas nos mesmos princípios da Indústria 4.0 que, em um segundo momento, podem ser empregadas na indústria de modo geral”, afirma João Emilio Gonçalves, gerente-executivo de Política Industrial da CNI.
Outra modalidade pouco explorada no Brasil, mas com grande poder de indução tecnológica, é o instrumento de encomendas, em que o Estado lança um desafio à iniciativa privada para desenvolver soluções a problemas nacionais específicos. No caso brasileiro, caberia como forma de desenvolver tecnologias identificar possibilidades para superar crises climáticas e melhorar a mobilidade urbana, por exemplo.
Em países desenvolvidos, as encomendas tecnológicas são instrumentos bastante usados para resolver diferentes demandas públicas. Algumas das tecnologias mais presentes no cotidiano, como sistema GPS, a internet e a automação de veículos aéreos são resultados de encomendas públicas. Estima-se que cerca de 30% dos investimentos feitos nos EUA em pesquisa e desenvolvimento sejam feitos nesta modalidade.
FUNDO PARA STARTUPS – Entre as propostas entregues aos candidatos à Presidência da República, a CNI defendeu a criação de um fundo de investimento fechado com recursos da Lei de Informática para financiar projetos em automação eletrônica, fundamental para o desenvolvimento da Indústria 4.0 no país. Além de outras obrigações, como contrapartida das empresas, a Lei de Informática exige investimento em pesquisa e desenvolvimento (P&D) de no mínimo 5% do faturamento da comercialização dos produtos incentivados. Por ano, esse investimento é da ordem de R$ 1,6 bilhão. Pela proposta, parte dos recursos seriam usados para viabilizar a estruturação de um fundo de investimento destinado ao desenvolvimento de startups na área de automação eletrônica.
“Incentivar o desenvolvimento de startups é um elemento chave na estratégia nacional de disseminação e inovação para Indústria 4.0. A capacitação técnica brasileira em software torna o segmento de startups especialmente promissor para o desenvolvimento tecnológico nacional”, diz Gonçalves.
EMPRESAS ÂNCORAS – Exemplo de como iniciativa privada e governo podem trabalhar juntos pela modernização do parque fabril brasileiro é a criação de um programa de estimulo às grandes empresas para a difusão de tecnologias da Indústria 4.0 em suas cadeias produtivas. A proposta da CNI é que o programa se baseie em instrumentos de crédito para apoiar a aquisição de software e bens de capital dos fornecedores das empresas-âncora.
Além disso, o documento sugere a criação de uma linha de subvenção para as empresas-âncora, voltada para o financiamento à elaboração de planos de integração digital da cadeia e para a implementação de programas e certificações de uso de tecnologias da Indústria 4.0. “Para tanto, é preciso que o governo federal defina a subvenção no Orçamento da União, que pode ser compartilhada entre o Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações (MCTIC) e o MDIC”, detalha João Emílio Gonçalves, gerente-executivo de Política Industrial da CNI

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