quinta-feira, 21 de janeiro de 2016

Dólar fecha em R$ 4,16, maior cotação desde a criação do Plano Real

nova-nota-de-dolar-5No dia seguinte à decisão do Banco Central (BC) de manter a taxa básica de juros inalterada, surpreendendo economistas, o dólar comercial subiu 1,51% contra o real nesta quinta-feira, cotado a R$ 4,166 na venda. É a maior cotação de fechamento já registrada desde a criação do Plano Real, em 1994. Antes, o recorde para a cotação de encerramento era dos R$ 4,145 registrado em 23 de setembro. Na máxima da sessão desta quinta, o dólar atingiu R$ 4,174, maior cotação registrada durante uma sessão desde 24 de setembro, quando havia atingido R$ 4,249. A Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa) opera em alta de 0,19%, acompanhando os mercados estrangeiros, aos 37.716 pontos.
O real foi a segunda moeda que mais perde força frente ao dólar hoje entre as 31 principais divisas do mundo — só perde para o rublo, que recua 3,63% com os investidores retirando capital da Rússia por causa da queda contínua do preço do petróleo. Globalmente, o dólar opera praticamente estável contra uma cesta de dez moedas, avançando apenas 0,09% segundo o índice Dollar Spot, da Bloomberg.
ANALISTAS DO MERCADO FINANCEIRO: ‘BC PERDEU CREDIBILIDADE’
Na noite de quarta-feira, dividido e sob pressão política para não aprofundar ainda mais a recessão econômica no país, o BC mudou o plano de voo e decidiu manter a taxa básica de juros (Selic) estável em 14,25% ao ano. Seis diretores do Comitê de Política Monetária (Copom) votaram pela estabilidade, mas dois integrantes queriam alta dos juros para conter os preços e ancorar as expectativas. Para justificar a alteração da rota, o BC deu grande peso às turbulências nos mercados internacionais.
“O Copom vai provavelmente indicar (na ata sobre a reunião de ontem) que pretende manter as taxas estáveis por um período suficientemente longo. É a mesma estratégia que o comitê seguia até novembro de 2015, que aparentemente foi abandonada naquela ocasião mas que foi retomada hoje”, escreveram os economistas do banco Brasil Plural, que esperavam que a Selic subisse para 14,5%. “Por enquanto, voltamos para a nossa previsão anterior a novembro, de que a Selic permaneceria inalterada até 2016.”
— O pouco que ainda restava de credibilidade do BC foi embora, ficou bem abalada. O BC não teve capacidade de coordenar as expectativas sobre suas decisões. Ele vinha conduzindo as expectativas para um novo ciclo de aperto dos juros, ainda que pequeno, com base na deterioração da inflação. Só que, no curtíssimo prazo, o BC deu um verdadeiro cavalo de pau. Ele fugiu do ritual tradicional do BC — criticou Rogério Freitas, sócio na Teórica Investimentos. — O problema é que se ele não usa o remédio agora, depois vai ter que usar em uma dosagem muito mais forte contra a inflação. Por isso, ocorre agora uma desancoragem das expectativas de inflação futura, ao longo de 2016 até 2018. O pessoal está esperando mais inflação. O BC se mostrou mais preocupado com o crescimento do que com as expetativas de inflação.
MOODY’S: MAIOR EXPECTATIVA DE INFLAÇÃO
“A decisão do BC de manter inalterada a taxa de juros enfatiza a preocupação com o aprofundamento da recessão, mas isso pode embutir maiores expectativas inflacionárias”, disse, em comentário enviado a jornalistas, Samar Maziad, analista sênior da agência de classificação de risco Moody´s.
A gestora de recursos brasileira Bullmark Financial Group, que já previa inflação de 9,5% este ano, agora acredita que ela baterá “facilmente 10%”, segundo Nobile.
— O grande problema dessa decisão do Copom é que ela foi completamente inesperada. O governo não está ajudando com contenção de gastos nem com investimento, então os juros eram o único caminho para controlar a inflação. Mas o BC tomou uma decisão política desastrada, que gera muito incerteza no mercado financeiro — disse Renato Nobile, diretor-executivo do Bullmark Financial Group. — A troca de Joaquim Levy por Nelson Barbosa já havia sinalizado uma maior centralização da política econômica nas mãos de Dilma. Assim, a única instituição que tinha um pouquinho de credibilidade era o BC, mas ela se foi, não existe mais. Ficou claro que o BC responde diretamente ao Planalto.
DECISÃO DO COPOM MEXE COM JUROS FUTUROS
A decisão do Copom mexe com o mercado de juros futuros, contratos cujas taxas acabam refletindo a expectativa dos investidores para a Selic. O resultado foi que os contratos com prazo de vencimento mais curto estão vendo suas taxas caírem, já que o BC indicou que não é sua intenção subir a Selic. Assim, o contrato DO com vencimento em janeiro de 2017 cai 37 pontos-base, para 14,78%. Por outro lado, os investidores antecipam que o movimento do BC apenas adiou a necessidade de aperto dos juros. Por isso, o contrato DI com vencimento em janeiro de 2012 sobe 8 pontos-base, para 16,88%.
Entre as ações, a Petrobras ON (com direito a voto) sobe 3,20% (R$ 6,12) e a PN (sem voto) avança 3,16% (R$ 4,57). Os papéis da Vale avançam 3,47% (ON, a R$ 9,53) e 3,16% (PN, por R$ 7,17).
Entre os bancos, o Banco do Brasil avança 0,94% (ON, a R$ 12,84), enquanto o Bradesco PN tem alta de 0,81% (R$ 17,40). No Itaú Unibanco PN, a alta é de 0,99% (R$ 23,30).

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