domingo, 15 de outubro de 2017

Preço dos alimentos cai e mais pobres voltam às compras

Depois de passar dois anos consumindo apenas o básico, as famílias de baixa renda estão aos poucos retomando as compras. O recuo no preço dos alimentos, que pesa mais no bolso dos mais pobres, está abrindo espaço para gastos que até pouco tempo essa parcela da população não pensava em fazer, como comprar um eletrodoméstico novo ou trocar o carro usado por um melhor.
Os dados oficiais ainda não capturaram o efeito que o aumento do poder de compra das famílias de baixa renda teve no consumo nos últimos meses, por causa da queda da inflação. Mas uma série de indicadores já apontam nessa direção. Em setembro, o fluxo de pessoas nos shoppings do país teve o maior crescimento desde 2015, puxado pelos shoppings populares. Trabalhadores que ganham até dois salários mínimos são maioria entre os que limparam o nome no serviço eletrônico da Serasa Experian. E nas lojas de eletrodomésticos, outro sinal concreto: a venda de TVs básicas, por exemplo, está crescendo mais do que a dos aparelhos mais sofisticados.
As mudanças no cenário mais favorável ao consumo começaram em meados do ano, quando a inflação, especialmente a dos brasileiros de menor renda, bateu no fundo do poço. Em junho, tanto o custo de vida das famílias que ganham até 4.685 reais, medida pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC), do IBGE, quanto as com renda de até 37.480 reais, medida pelo Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), registrou deflação. Mas a queda maior ocorreu entre os mais pobres. O INPC caiu 0,30% em junho, enquanto o IPCA recuou 0,23% no mesmo período. De lá para cá, o cenário só tem favorecido os mais pobres. Em agosto e setembro, o INPC teve deflação, enquanto o IPCA foi positivo, porém em níveis baixos.
O quadro nem sempre foi assim. Em janeiro de 2016, quando a inflação estourou por causa dos alimentos e atingiu 11,31% em doze meses, o índice dos mais pobres estava acima da inflação da classe média. “Agora a situação se inverteu e é uma mudança qualitativa importante”, diz o professor da Faculdade de Economia da USP Heron do Carmo. Quando a inflação perde força, diz Heron, o padrão de vida melhora. E as famílias mais pobres, pelo fato de gastarem praticamente toda a renda com itens básicos, ganham um alento para comprar outros produtos. “São os 20 reais a menos gastos com alimentação que pagam a prestação do tanquinho.”

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